sábado, maio 02, 2020

IGNOTUS

(A Salomão Sáragga)

Onde te escondes? Eis que em vão clamamos,
Suspirando e erguendo as mãos em vão!
Já a voz enrouquece e o coração
Está cansado – e já desesperamos…
Por céu, por mar e terras procuramos
O Espírito que enche a solidão,
E só a própria voz na imensidão
Fatigada nos volve… e não te achamos!
Céus e terra, clamai, aonde? aonde? –
Mas o Espírito antigo só responde,
Em tom de grande tédio e de pesar:
– Não vos queixeis, ó filhos da ansiedade,
Que eu mesmo, desde toda a eternidade,
Também me busco a mim… sem me encontrar!

Antero de Quental

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