Desenhar com outras pessoas faz-me
vestir uma espécie de escudo protetor e torna-se mais fácil enfrentar os outros
e os desafios. Depois de entrarmos no café do sr. Marco no Livramento (eu e a
Sofia Botelho) para aceder à minha dose matinal de cafeína, acabei por
encontrar naquele espaço (onde as mulheres não proliferam) algumas das
«afeições» terrenas que prendem a Terra à «terra» e... olhar para baixo e numa
perspetiva Pessoana, refletir sobre o que somos e não somos, o que queremos e
não queremos ser. Pensei que não seria capaz de dar resposta ao que tinha sido
proposto: olhar para baixo e aceder às coisas do alto...
Lá me levantei para sair do café (à
procura de alguém com quem interagir) e apercebi-me que atrás de mim se sentava
um senhor que ali pairava ou vagueava nos seus pensamentos ou... descansava.
Perguntei se me deixava desenhá-lo e o senhor consentiu. O sr. José Botelho foi
simpático embora pouco falador, era também um bocadinho surdo e isso dificultou
um pouco a nossa conversa. Soube que era dono da charcutaria da localidade e
que -ali- se sentia «em casa», como o café pertence ao genro e deixa-se estar,
em frente à janela, olhando para tudo e para nada. É dono de uma charcutaria e
sabe-lhe bem o descanso do fim de semana (...). Depois saí e fui procurar na
rua as ligações que tinham sido pedidas. Saltitei entre uma e outra página a
tentar contextualizar e relacionar as coisas com as pessoas. Pensei que as
coisas do «Céu» na «Terra» são coisas da «Terra» e não do «céu». Pensei que as
pessoas são «muito» ou são «nada» e o senhor José parecia - na sua pose etérea
- estar mais elevado do que eu. Mais tarde, depois de termos partilhado os
desenhos em grupo, pensei que querer ser «nada» pode significar ser-se «todas
as coisas do mundo»...
À parte disso fui registando as pessoas do grupo que fez o
retiro com o Mário Linhares e que me receberam a mim e à Sofia Botelho com
enorme simpatia. Foi um prazer desenhar com todos (Estela, Emanuelle, Isabel,
Ketta, Luísa, Mário, Matias e Teresa) e espero que voltem, um abraço e obrigada
pelos momentos «inspirados».
Hoje, a pensar sobre o que fiz, quer-me parecer que o exercício
fica assim... por resolver!
(Pilot G-tec-C4, marcadores windsor & Newton, Amsterdam e Giotto decor materiais, Posca e caneta de tinta da china s/ Ebru) | «in situ»
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